Ao percorrer a seção de suplementos, você provavelmente passará por frascos de comprimidos e gomas que se vendem como capazes de impulsionar o seu sistema imunológico. E se você já se sentiu tentado a experimentá-los, está longe de estar sozinho. Pesquisas recentes sugerem que milhões de americanos têm usado suplementos alimentares para esses supostos benefícios.
Um novo estudo foi publicado no periódico científico Jama Network Open que incluiu mais de 15.000 participantes descobriu que cerca de 1 em cada 9 residentes dos Estados Unidos usaram suplementos para melhorar seus sistemas imunológicos entre janeiro de 2017 e março de 2020.
“Isso ocorre o tempo todo”, diz Michael Ben-Aderet, diretor médico associado de epidemiologia hospitalar no Cedars-Sinai em Los Angeles, que não esteve envolvido no estudo. “Realmente há essa sensação de as pessoas tentarem otimizar sua saúde.”
Muitos também usaram suplementos sem recomendação médica, descobriram os autores. Mas médicos de doenças infecciosas, pesquisadores e especialistas em suplementos dizem que não há muitas evidências de que esses produtos realmente ajudem.
O que diz a ciência?
Os suplementos que afirmam apoiar a imunidade frequentemente contêm vitaminas e minerais necessários para o sistema imunológico. Portanto, não é irracional acreditar que esses produtos possam te ajudar evitar infecções virais comuns ou reduzir sintomas caso você fique doente. De fato, alguns nutrientes, como as vitaminas A, C, D e zinco são necessários para proteger contra germes, e deficiências dessas substâncias aumentam o risco de ficar doente, afirma Mahtab Jafari, professor de ciências farmacêuticas na Universidade da Califórnia, Irvine.
No entanto, a maioria das pessoas obtém as vitaminas e minerais de que precisam por meio de uma dieta equilibrada. Para essas pessoas, não há evidências convincentes de que os suplementos sejam úteis, acrescentou, Ben-Aderet.
Existem milhares de suplementos que afirmam ajudar o sistema imunológico. Alguns contêm apenas uma vitamina ou mineral, e outros são embalados com uma mistura de ingredientes. Vitamina D, C ou zinco estão entre os ingredientes mais estudados e prevalentes, disseram os especialistas, e os benefícios ainda não são conclusivos.
Pesquisas que sugerem que os suplementos de vitamina D tratam infecções virais como o resfriado comum ou reduzem o risco delas são inconsistentes. Uma revisão de 2020 descobriu que os suplementos não protegiam contra vírus em pessoas com níveis normais ou altos de vitamina D.
Uma revisão de 2021 envolvendo quase 50.000 participantes, no entanto, descobriu que os suplementos da substância reduziram ligeiramente o risco de infecções respiratórias agudas. (Mas a revisão envolveu autores que receberam financiamento de empresas de suplementos.)
As evidências são igualmente pouco convincentes para a vitamina C e o zinco. Uma revisão de 2013 da Cochrane Library envolvendo mais de 11.000 participantes descobriu que os suplementos de vitamina C não reduziram o risco de pegar um resfriado na população em geral, embora às vezes tenham encurtado a duração da doença.
E uma revisão de 2024 da Cochrane envolvendo mais de 8.000 participantes descobriu que os suplementos de zinco quase não fizeram nada para prevenir o resfriado comum, embora possam ter reduzido a duração.
Plantas como sabugueiro e equinácea também são usadas em suplementos para o sistema imunológico. Mas ao contrário de vitaminas e minerais, os produtos botânicos não são essenciais para a saúde imunológica, e há ainda menos pesquisas confiáveis indicando se eles ajudam a prevenir ou tratar vírus comuns, declaram Jen Wall Forrester, diretora médica sênior de prevenção de infecções na UC Health em Cincinnati.
“Eu gostaria que houvesse uma bala mágica”, diz ela, afirmando a imunidade é complexa, e os suplementos provavelmente não alterarão seu funcionamento sozinhos.
Por que não sabemos se eles realmente são úteis?
É difícil afirmar firmemente os benefícios dos suplementos para o sistema imunológico porque há poucos ensaios clínicos randomizados de alta qualidade, o padrão ouro da pesquisa médica, avaliando sua eficácia, diz Pieter Cohen, professor associado da Escola de Medicina de Harvard que estuda a segurança de suplementos alimentares.
Um estudo de 2022 analisando 30 suplementos comercializados para apoiar o sistema imunológico descobriu que mais da metade tinha rótulos imprecisos, 13 estavam rotulados incorretamente e nove continham ingredientes não listados no rótulo.
Qual é a conclusão? “Você precisa ter uma dose saudável de ceticismo ao pegar algo da prateleira”, afirma Ben-Aderet. Mas se você quiser experimentar suplementos, verifique selos de aprovação de alta qualidade de terceiros de organizações como a NSF, que testa a qualidade de suplementos dietéticos, diz Jafari. [O selo também tem validade no Brasil. Além disso, verifique o site da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para checar se a agência já emitiu notificação para a empresa ou retirou algum de seus produtos do mercado.]
Também converse com um profissional de saúde antes de tomar suplementos. Eles podem pedir exames de sangue para verificar deficiências, avisa-lo sobre efeitos colaterais e dosagens inseguras, e informa-lo se alguns suplementos podem interagir perigosamente com os medicamentos que você toma, diz Wall Forrester.
Se o seu médico disser que o suplemento que você deseja experimentar é geralmente seguro, você “pode simplesmente experimentá-lo”, afirma Wall Forrester, “mas você pode estar apenas desperdiçando seu dinheiro”.