É inquestionável que a pandemia de Covid-19 foi um marco na história (tal qual a pandemia da gripe cerca de um século antes). Como tal, não pode ser esquecida.
A Unifesp lançou o Acervo da Pandemia de Covid-19, uma plataforma digital que documenta as ações e inações do governo durante 2020 a 2022. Esse acervo é extremamente importante. Como disse George Santayana, “aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”.
Nas últimas semanas houve discussões sobre os cinco anos da pandemia. Um tema recorrente é se o mundo está preparado para a próxima. Aqui, é preciso discutir dois aspectos.
Primeiro, há emergências que surgem de forma rápida, como um novo patógeno. Nesse caso, tudo é novo, o conhecimento vai se expandindo junto com a emergência, e o desenvolvimento de medicamentos e imunizantes demanda tempo. Esse foi o caso da Covid-19.
Apesar de todos os desafios relacionados a controlar um novo patógeno, o manejo da emergência foi falho. Ficou evidente que sistemas de saúde na grande maioria dos países não era resiliente, ou seja, não conseguiram prevenir, preparar, detectar, adaptar, responder e se recuperar de uma emergência, garantindo que funções essenciais de saúde não fossem comprometidas.
Segundo, há emergências que se desenvolvem ao longo do tempo. Batem na porta, mandam recado, e só recebem atenção quando a situação já virou uma emergência de fato. De certa forma, a situação da dengue é um exemplo. Afinal, o que esperar de um crescimento urbano desordenado, que gera verdadeiros paraísos para o mosquito?
Outro exemplo é o envelhecimento populacional. Demógrafos já alertavam há muito tempo que a população vinha envelhecimento rapidamente. O Censo Populacional de 2022 mostra isso. Não é novidade. Um envelhecimento não saudável vai gerar demandas do sistema de saúde que poderiam ser evitadas com prevenção.
Some-se a isso os resultados de uma pesquisa publicada na revista Lancet que estima a prevalência de sobrepeso e obesidade entre crianças e jovens (5 a 24 anos) e adultos (25 ou mais).
Em 2021, cerca de 20% da população menor de 25 anos e quase metade daqueles com 25 anos ou mais no mundo viviam com sobrepeso ou obesidade. Até 2050, caso a tendência não mude, cerca de 30% das crianças e jovens e 60% dos adultos terão sobrepeso ou obesidade.
No Brasil, a estimativa é que um terço das crianças e jovens e 65% dos adultos estejam com sobrepeso ou obesos em 2050. Esses números são preocupantes, mas não uma surpresa.
Dados do Vigitel, do Ministério da Saúde, mostram, desde 2006, um crescimento consistente no sobrepeso e obesidade.
As consequências serão inúmeras, incluindo problemas no desenvolvimento infantil, saúde mental, pressão alta, diabetes, doenças cardiovasculares, entre outras. Entretanto, ainda carecemos de medidas concretas para mudar essa tendência.
Que fique claro que esse problema não será resolvido com medicamentos antiobesidade (tais como Ozempic).
Uma emergência de saúde pública devido ao sobrepeso e obesidade vem se desenhando há algum tempo. No Brasil e no mundo. Ou o Brasil se antecipa e encara isso agora, ou teremos outra tragédia anunciada.
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