A montanha não é lá muito íngreme, mas pés paralelos sobre os esquis deslizam no gelo e ganham velocidade. O instrutor acompanha o movimento desengonçado do aluno e o orienta a posicionar os pés tal qual uma fatia de pizza, abrindo um triângulo a partir das pontas dianteiras do esqui.
O corpo levemente inclinado para frente e a posição dos esquis amplia o atrito, que vira uma espécie de freio. Mas, sem equilíbrio, o aluno iniciante tomba na neve nas primeiras tentativas. Paciência é fundamental, mas se manter de pé e deslizar sob o gelo é uma tarefa menos complexa do que parece.
Com 250 quilômetros de pistas divididas em quatro tipos, conforme o nível de dificuldade, a região de Serre Chevalier, nos Alpes franceses, é uma espécie de Disneylândia dos esportes de inverno.
Próxima ao Parque Nacional dos Écrins, a 1.400 metros de altitude, a região é um dos principais polos de turismo de inverno do mundo, unindo esportes como o esqui e o snowboard a uma estrutura que oferece comodidade e boa gastronomia.
A Folha esteve na região em fevereiro e ficou uma semana Club Med Serre Chevalier, resort que passou por uma ampla reforma ao custo de 50 milhões de euros e reabriu em dezembro para a sua primeira temporada de inverno nas novas instalações.
Com arquitetura inspirada nas vilas alpinas, o resort tem 250 quartos e funciona em sistema all-inclusive, que inclui refeições, bebidas, apresentações artísticas, aulas de esqui e de snowboard e passaporte de acesso aos teleféricos e demais meios de transporte para as pistas.
As reservas devem ser por um período mínimo de uma semana. O pacote para um casal para hospedagem por sete dias custa em torno de R$ 30 mil. Não estão inclusas as passagens aéreas e o aluguel dos equipamentos, que pode chegar a R$ 1.500 por pessoa por uma semana.
A agenda de atividades do resort é voltada para a prática dos esportes de inverno, com aulas nos períodos da manhã e tarde. Cada professor é responsável por dez alunos e os níveis atendem desde alunos iniciantes, incluindo crianças, até os mais experientes que esquiam fora das pistas.
Mesmo sem tradição nos esportes de inverno, o Brasil é o segundo país que mais envia turistas para os resorts do Club Med voltados para os esportes de neve, seguido dos ingleses e italianos. Os franceses lideram a lista.
Apenas no primeiro semestre de 2025, a ida a brasileiros para resorts de neve da Club Med representou um faturamento de R$ 60 milhões. Ao todo, são cerca de 25 mil brasileiros na carteira de clientes dos resorts de neve da rede.
“Em termos de marketing, se a gente fizer um desenho do cliente perfeito para o Club Med, seria o brasileiro. O brasileiro é extrovertido, gosta de esporte, gosta da família junto, gostar de estar junto com os amigos. Tem tudo a ver”, afirma Janyck Daudet, CEO do Club Med para a América Latina.
Detalhes da operação foram adaptados mirando os turistas do Brasil, incluindo os horários e formato de funcionamento dos restaurantes. Parte dos funcionários do resort são brasileiros e ao menos 20 instrutores de esqui e snowboard falam português. Os demais se comunicam em inglês e francês.
As pistas para iniciantes ficam no entorno do próprio hotel, mas conforme o aluno evolui no aprendizado, ele segue para trechos mais íngremes. O transporte é feito para estas pistas em ônibus e em teleféricos, que proporcionam uma vista de tirar o fôlego das montanhas cobertas de neve.
Entre os brasileiros, o público que antes era restrito aos muito ricos, hoje é mais diversificado, explica Janyck Daudet. As famílias são o principal público-alvo, por isso a estrutura foi adaptada para atender crianças a partir de quatro meses, com miniclube e restaurante infantil.
A viagem é indicada apenas para quem pretende ter uma experiência de imersão nos esportes de neve. Fora das pistas, durante o dia, as opções de entretenimento são restritas – incluem sauna, uma piscina coberta aquecida, academia e apresentações musicais regadas a petiscos e bebidas.
No entorno do resort, há opções de pubs e de restaurantes. Mas há localidades próximas que valem uma esticada durante a viagem.
Uma delas é a charmosa Briançon, comuna que é considerada patrimônio mundial da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), com fortes e construções históricas. A cidade será uma das subsedes dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2030, na França.
Também vale uma ida à comuna de Monêtier, conhecida por seus banhos termais com vista para o Parque Nacional dos Écrins.
Para chegar a Serre Chevalier, duas cidades servem como ponto de apoio para desembarque. Na França, o aeroporto de maior porte mais próximo é Lyon, terceira maior cidade do país que fica a 208 km do resort. A outra opção é a cidade de Turim, no norte da Itália, a 134 km da região.
O jornalista viajou a convite do Club Med