Gabriela Greco, 42, levanta todos os dias antes das seis horas da manhã para se organizar. Às 7h30 acorda sua filha, Lígia Maria, 8, e ajuda a menina a se arrumar para ir à escola. É de casa, para a escola (de tempo integral), e, em seguida, para o trabalho, onde atua como gerente financeira. No fim do dia, pega filha na casa da vizinha, uma amiga de infância e “tia de consideração”.
Antes disso, porém, Gabriela passa na academia e tem um tempo de autocuidado –essas horas a mais fazem parte do acordo com a amiga, que dá jantar e banho em Lígia antes da chegada da mãe. Quando se reencontram, o tempo de qualidade é também maior.
“Entrei na academia aqui na rua de casa, porque agora essa minha amiga de infância está morando comigo. Antes eu não conseguia, gosto de fazer academia cedo, mas eu não vou deixar minha filha dormindo sozinha em casa”, conta a gerente financeira, que é mãe solo.
Gabriela faz parte de um grupo de mães que contam com o apoio de outras mulheres para encontrarem tempo para o autocuidado, como a prática de hobbies e atividade física. Elas recorrem não somente a avós, tias e outras parentes dos filhos, mas mulheres sem parentesco, como amigas e vizinhas, que se dispõem a cuidar das crianças para que as mães possam cuidar de si mesmas.
No caso de Michelle Ramos, 44, mãe de Antonella, 8, as amigas deram o empurrão que ela precisava para cuidar de si mesma. “E me deu muita força saber que minha filha estaria bem cuidada enquanto eu estava cuidando de mim”, diz.
A proprietária de uma agência de marketing e comunicação inclui a menina em tudo o que é possível, mas aprendeu a não deixar de lado aquilo que gosta e entende que não dá pra levar a filha. Nessas horas, conta com a ajuda de outras mães que moram no mesmo condomínio e revezam entre si o cuidado das crianças.
“Durante muito tempo, eu não fiz nada, só trabalhei e cuidei da Antonella. Eu não conseguia fazer um esporte, não conseguia sair, e também não queria conhecer outras pessoas. Mas eu gosto muito de samba, de carnaval, de coisas em que ela não pode estar comigo. E minhas vizinhas me incentivaram muito. Um dia elas combinaram: ‘a gente vai ficar com a Antonella e você vai’.”
Apesar de ter esse apoio das vizinhas, Michelle diz que não teria o mesmo incentivo da família. “As mulheres numa família vão ficar em casa com a criança para a mãe trabalhar, e não para ela sair e se divertir. Já minhas amigas têm o conhecimento do quanto isso é importante”, diz ela, que é mãe solo e foi vítima de violência doméstica praticada pelo pai da menina.
Mas mesmo no caso de mães que contam com a presença do pai da criança, o apoio de outras mulheres ainda é importante para que haja tempo para atividades de bem-estar. Jenifer Marrúa, 26, é mãe de Marelua, 4, e de um recém-nascido, Caetano Rudá, tem a ajuda do companheiro nas tarefas de cuidado, mas também se esforça para criar uma rede de apoio com outras mães para compartilhar hobbies, arte e conversas sobre maternidade.
“A maioria das minhas amizades hoje em dia são outras mães. São mulheres que eu recorro tanto para uma conversa quanto para sair”, diz ela, que além de trabalhar em um programa cultural, é dona de um brechó itinerante.
Foram essas amigas que apoiaram a jovem a sair de casa sozinha. Jenifer conta que ficar sem sair estava a deixando reativa e com sinais de exaustão. “E aí eu conversei com minhas amigas e elas falaram ‘vamos nos ajudar, o que que você precisa?’. E aqui em casa não pega sol, porque é uma casa baixa, então, às vezes, tudo que eu quero é tomar um sol. Mas para eu fazer isso com as crianças, eu tenho que arrumar bolsa, arrumar as crianças e na volta dar banho. E às vezes a gente só precisa do contrário”, diz.
Durante a pandemia, a artista criou um coletivo com outras mães com o intuito de produzir rede de apoio e renda para as mulheres envolvidas. Em uma casa alugada no Jardim Guarujá, elas disponibilizavam o espaço para atividades rentáveis de diversas mulheres, como o próprio brechó de Jenifer. Além disso, elas também se ajudavam cuidando dos filhos umas das outras e dando apoio em casos de violência doméstica. Hoje, o coletivo se transformou, e se tornou em uma organização afrocultural.
Ao lado de uma amiga, escreveu uma música sobre a rede de apoio feminina que criaram na época.
“Essa gata é parceira como uma loba
Sempre chega junto na disposição, quando eu preciso ela fala um bolão!
São vários problemas pra nós desenrolar!
Mas, mesmo assim, ela cuida das minhas cria pra eu ir estudar
Parceria que incentiva, não deixa o corre parar.”