Um Caravaggio perdido no Museu do Prado, na capital da Espanha, arrastou multidões para visitar a instituição bicentenária, que não economizou na divulgação de sua nova sensação artística. Ela ficou em cartaz até o fim do mês passado e voltará a ser exposta a partir de 28 de maio.
Já no salão principal, nos elevadores e nos mapas, havia a indicações de onde os visitantes poderiam encontrar a obra “Ecce Homo”, que retrata Jesus ensanguentado, tida como uma descoberta histórica. Mesmo um desavisado ficaria tentado a chegar lá.
Ao longo dos corredores, mais alertas que indicavam o rumo da preciosidade, exposta em
uma sala exclusiva, com iluminação especial, proteção em vidro e adornos em veludo. Quem faz uso de audioguia até perdia a noção do tempo diante do quadro.
O resultado de tudo isso acabou por gerar uma peregrinação de gente atrás da obra. Uma muvuca que nenhum turista quer perder, embora com menos exposição às clássicas gritaria e confusão, mas com aperto, burburinho e falação. E vale a pena.
Atrativos propagados como imperdíveis na capital espanhola geram ruas cheias, bares disputados, pedintes —nada comparado à força da pobreza paulistana, é claro— e exigem paciência.
Porém, a satisfação de ter contemplado o Palácio de Cristal, ter vivido a experiência de tomar uma copa na Plaza Mayor, ver um show de flamenco na região da praça Santa Ana, apreciar típicas moradias do alto do Museu Reina Sofia e ficar de boa em um dos inúmeros jardins da cidade fazem de Madri inesquecível.
No Mercado de San Miguel, por exemplo, é preciso ter disposição para aguentar o calor dos corredores lotados nos dias de verão e primavera. Um vaporzinho que sai de tubulações suspensas é como uma baforada de incentivo para ficar e comer. Comer muito.
Em quase todas as bancas há opções para degustação. É possível se empanturrar com paellas de todo tipo, tapas sofisticadas em sabores e montagens, frutos do mar com preparos caprichados. É uma festa gastronômica.
Para quem não tiver disposição para aglomeração e quiser fugir do clima roots, o Mercado de San Antón também tem comidas locais excelentes e a bons preços, com a comodidade de mais mesas, mais espaço e menos filas.
No mesmo local do mercado há um rooftop bem elegante, com comidas bem mais elaboradas, mas para bolsos com mais euros. Vale demais atravessar a rua e tomar um sorvete disputado e cremoso na sorveteria La Romana.
Turistar na região do Palácio Real Espanhol e da catedral de Madri é outra dinâmica que vai exigir disposição e espírito de férias, mas que renderá boas memórias e histórias. As filas para comprar ingresso e ver as relíquias espanholas são enormes, mesmo fora da temporada de férias.
O passeio, porém, compensa a espera. A riqueza arquitetônica, os detalhes da vida na realeza, os objetos centenários expostos e o rococó por todos os lados são impactantes. Como os salões são enormes, ninguém se espreme, com exceção para o momento de visitação à Coroa Tumular, que fica num espaço mais restrito.
Flanar pela Gran Via também é um passeio comum e divertido para se fazer em Madri. Alguns trechos são enfeitados, há vitrines com todo tipo de charme e de cafonice, e ruazinhas paralelas charmosas. O local, porém, fica mais espremido, barulhento e muvucado quando se chega à Puerta del Sol —ali sim, um ensaio de 25 de Março paulistana.
Uma sugestão para sentir o espírito madrilenho de maneira plena é passear pelo bairro de Las Letras, onde moraram grandes escritores como Lope de Vega, Quevedo, Góngora e Cervantes.
Em alguns horários do dia, há grupos peregrinando por ali e fazendo fotos, mas é possível passear com calma, ver os detalhes das casas históricas e aprender sobre literatura entre o entardecer e o começo da noite.
Nas redondezas, mesmo para quem não gosta de agito, vale ficar atento aos bares e seus exotismos, aromas e excentricidades. Há templos de figuras instigantes, como o Bestial by Rosi la Loca; curiosos com o Trocha, “el lugar de la caipirinha”; e divertidos, com o Revoltosa.
Uma das capitais mais acessíveis da Europa, em vários sentidos, Madri tem toureado os percalços de suas multidões. Por enquanto, “al final, todo vale la pena”.