A cidade de Itacaré, no sul da Bahia, cresce como referência internacional para surfistas que viajam em busca de boas ondas. Com praias em região de mata atlântica preservada, o comércio local se adapta para atender à demanda de turistas iniciantes no esporte.
Ao caminhar pela rua da Pituba, região mais turística da cidade, observa-se que o surfe faz parte da identidade de Itacaré. Restaurantes, pousadas e bares incorporam referências às ondas e pranchas na decoração, reforçando a estética praiana.
Durante o dia é possível ver turistas e moradores da cidade caminhando com pranchas de surfe debaixo do braço, seguindo em direção às praias ao sul da cidade.
“Quando tem onda eu levo minha prancha para o trabalho e dou uma caída na água após o expediente”, diz Caique Botelho, 23, garçom em um restaurante da rua da Pituba.
Segundo comerciantes, o turismo em Itacaré sempre esteve ligado ao surfe. “Até a década de 1970, era apenas uma vila de pescadores, sem energia elétrica e pouco conhecida. O destino ganhou fama no boca a boca entre surfistas aventureiros que exploravam o litoral sul da Bahia em busca de boas ondas”, afirma Anderson Pinheiro, 56, soteropolitano que vive na cidade há três décadas.
Para a inglesa Molly Piper Greaves, 28, Itacaré é um destino ideal para quem quer aprender a surfar. Com experiência no esporte em países como México e Austrália, ela destaca um diferencial da região: “A melhor parte daqui é a temperatura da água, que permite ficar horas no mar sem desconforto. Além disso, o preço das aulas é mais acessível em comparação a outros lugares.”
Além da temperatura da água, instrutores de surfe destacam que a formação rochosa das praias, em formato de concha, ajuda a alinhar o swell —vento responsável pela formação das ondas— tornando a região ainda mais atraente para surfistas. Com clima tropical, Itacaré oferece boas condições para a prática do esporte durante todo o ano.
A época mais indicada para surfistas iniciantes é entre janeiro e março, quando as ondas estão menores, com cerca de 1,5 metro. O restante do ano apresenta um grau maior de desafio devido às correntes marítimas, sendo mais propício para esportistas experientes.
O crescimento do turismo voltado ao surfe impulsionou a oferta de aulas em Itacaré. Cristóvão Costa dos Santos, 56, conhecido como Thor, é dono de uma das escolinhas mais tradicionais da cidade, em atividade há 25 anos.
“Eu era atleta profissional quando conheci Itacaré e decidi me mudar para cá. No início, me sustentava consertando pranchas. A ideia das aulas surgiu quando um turista estrangeiro me ofereceu US$ 50 pelo aluguel da minha prancha. Percebi ali uma oportunidade de negócio e comecei alugar e dar aulas de surfe.”
Thor estima que cerca de 90% de seus alunos sejam turistas estrangeiros. A maioria procura a escola em busca da primeira experiência no surfe, mas há também pacotes para quem deseja aprimorar técnicas e aprender novas manobras. As aulas acontecem diariamente, com duração de aproximadamente uma hora e meia, e custam, em média, R$ 200.
A maioria dos seus alunos vem de Israel, graças a uma parceria comercial com uma agência de turismo do país do Oriente Médio que promove a escola. Na sede, anúncios em inglês e hebraico reforçam a conexão, enquanto as bandeiras decoram a fachada.
O israelense Yoel Gutkowski, 23, veio ao Brasil após cumprir o serviço militar obrigatório e conheceu Itacaré por indicação de amigos. “Passava os dias na areia observando os surfistas ao fundo e senti vontade de aprender”, conta o turista, que está há duas semanas na cidade.
A reportagem foi convidada a participar de uma aula de surfe na Praia da Engenhoca, a 15 km do centro de Itacaré. Para começar, os alunos se reúnem na sede da escola, que fica no centro da cidade e seguem de van até o local da prática.
As aulas são realizadas em uma praia mais isolada por questões de segurança, para evitar colisões com banhistas. Os alunos junto a um grupo com três instrutores seguem por uma trilha dentro da mata atlântica até chegarem na praia de areia branca, coqueiros e água cristalina.
O grupo se reúne em uma cabana na praia que funciona como restaurante. O estabelecimento abriga um pequeno galpão na parte externa que guarda as pranchas no local para facilitar a logística. Em retorno, a escola traz clientes para a cabana, e eles acabam consumindo no local.
A aula começa com a parte teórica na areia da praia. Os instrutores lecionam a aula alternando entre o inglês e hebraico. Depois do treinamento para aprender os movimentos para ficar em pé na prancha, os alunos fazem exercícios e alongamentos em grupo e vão para a parte prática na água.
Na parte rasa do mar, os instrutores se revezam auxiliando os alunos a entrarem na onda através de um empurrãozinho. Assim que a prancha ganha velocidade, os alunos tentam dropar, que significa ficar em pé na prancha.
Os instrutores comemoram com gritos, aplausos e o sinal do hang loose o progresso dos alunos sempre que alguém acertava a movimentação para dropar sem tomar vaca.
Praias indicadas para surfar em Itacaré
Praias da Tiririca, do Resende e da Ribeira
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Acesso direto pela continuação da rua da Pituba, um quilômetro de caminhada até a mais distante, todas com maior presença de banhistas
Praia da Engenhoca
Praia de Jeribucaçu
Escolas de surfe
Thor Surf School
Easydrop Surf Camp
Dr das Pranchas
The Surf’s Cool