Mãe Sylvia de Oxalá, Elza Soares, Francisco José das Chagas (Chaguinhas), Lélia González e Milton Santos deveriam ter estátuas instaladas na cidade de São Paulo em 2024, segundo anúncio feito pela prefeitura no ano anterior. Em novembro de 2023, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa da capital paulista fez uma consulta pública para definir quais pessoas seriam homenageadas com as estátuas. Da lista de 14, cinco foram escolhidos.
O projeto, no entanto, não saiu do papel no último ano e tampouco tem data para ocorrer. A Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa informa que as esculturas de Mãe Sylvia de Oxalá, Chaguinhas, Lélia Gonzales e Milton Santos estão em fase de definição dos locais a serem instaladas. “O próximo passo é a contratação dos artistas para execução”, diz, em nota. Já a estátua de Elza Soares está com processo de negociação para a contratação artística em andamento, segundo o órgão.
Questionada sobre datas e valores, a secretaria informa que “não há previsão para a execução e que os custos são divulgados após a efetivação da contratação dos artistas”. O atraso mostra o descaso com as homenagens à pessoas negras na cidade. Até o início de 2022, dos 366 monumentos de São Paulo, só cinco retratavam pessoas negras, um racismo urbano escancarado.
Naquele ano, a cidade ganhou cinco estátuas de pessoas negras: Adhemar Ferreira da Silva, primeiro atleta sul-americano bicampeão olímpico em eventos individuais; Carolina Maria de Jesus, escritora; Deolinda Madre (Madrinha Eunice), sambista e pioneira do carnaval paulistano; Geraldo Filme, compositor e cantor; e Itamar Assumpção, cantor e compositor. Os monumentos foram instalados sem placas de identificação e só as ganharam após texto da coluna do Guia Negro denunciar a situação. Além disso, todas medem 1,66 metro, bastante pequenas, passando despercebidas no contexto urbano. A controversa estátua de Borba Gato, em Santo Amaro, por exemplo, tem 13 metros de altura.
A localização das homenagens também foi e é uma questão. Carolina Maria de Jesus seria instalada num parque em Parelheiros, em região com pouca circulação de pessoas. Depois de protestos dos movimentos sociais e da família, o monumento foi construído na praça central de Parelheiros, que é a Julio Cesar de Campos. Já Geraldo Filme tem sua representação na Praça David Raw, na Barra Funda, um pouco perdido numa região em que não circulam pedestres.
Esperamos que a ialorixá Mãe Sylvia de Oxalá; a escritora Elza Soares; o cabo negro condenado à morte, que inspirou o nome de Liberdade ao bairro, o Chaguinhas; a filósofa e escritora Lélia González e o geógrafo Milton Santos tenham mais sorte e atenção e ganhem monumentos que os representem à altura da grandeza de suas atuações e em locais que a população de São Paulo possa ver e reverenciá-los. Chega de apagamento histórico ao povo preto.
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