Em tupi-guarani, “xingó” significa água que corre entre pedras. Quando os povos originários deram esse nome à região do semiárido nordestino na divisa entre Sergipe e Alagoas, ainda não existia a atração que hoje atrai milhares de turistas para o local. Ainda assim, ele não poderia ser mais adequado para descrevê-la.
No cânion do Xingó, a água que corre é a do rio São Francisco, e as pedras são, na verdade, um paredão de rochas de até 50 metros de altura, formadas ao longo de milhões de anos.
Quinto maior cânion navegável do mundo, com 65 quilômetros de extensão, 170 metros de profundidade e uma largura que varia de 50 a 300 metros, o Xingó é uma mistura da ação da natureza com a intervenção do homem. O represamento das águas do São Francisco após a construção da usina hidrelétrica de mesmo nome, nos anos 1990, triplicou o tamanho do rio naquela área e formou o vale de águas profundas que hoje permite a navegação em meio às rochas areníticas avermelhadas.
A região, situada entre os municípios de Canindé de São Francisco (SE) e Piranhas (AL), ficou famosa por ter sido cenário para novelas e minisséries da TV Globo, como “Cordel Encantado” (2011), “Velho Chico” (2016) e “Mar do Sertão” (2022)
Desde o fim da pandemia, o número de visitantes tem sido crescente: em 2024, foram 770 mil por ano, 90 mil a mais do que no ano anterior.
O passeio pode ser feito em catamarãs de dois andares, que comportam 250 pessoas, ou em lanchas. A primeira opção custa R$ 135 e tem comodidades como banheiro, serviço de bar e chuveiro para se refrescar. Já as lanchas oferecem um serviço mais privativo, que permite ficar mais tempo aproveitando o local. No dia da visita da Folha, o valor cobrado era de R$ 175 por pessoa.
No catamarã, opção escolhida pela reportagem, um guia dava explicações ao microfone, chamando a atenção para formações rochosas com nomes como Ponta do Papagaio, Pedra do Japonês e Morro dos Macacos e para a vegetação típica da caatinga. No restante do tempo, a trilha sonora era de música popular brasileira, com predominância de artistas nordestinos, como Fagner, Djavan e Alceu Valença.
O cânion foi avistado pela primeira vez ao som da “Oração de São Francisco” —imagens do santo em oratórios podem ser vistas de quando em quando, incrustadas nas pedras.
Do restaurante Karrancas, de onde saem as embarcações, leva-se cerca de uma hora para se chegar ao Paraíso do Talhado, o lugar mais bonito do trajeto, onde os turistas permanecem por cerca de uma hora.
Uma vez lá, é possível nadar em uma área delimitada para isso, com redes de proteção e a presença de salva-vidas. A piscina principal tem 10 metros de profundidade e a menor, 1 metro. Nos dias de mais procura, elas podem ficar lotadas, mas já dá para ter o gostinho de entrar nas águas verde-esmeralda do São Francisco, com uma bela paisagem ao redor.
Da plataforma flutuante onde ocorre essa parada, saem barquinhos a remo que permitem ver de perto o cânion, em trajetos de 10 minutos que custam R$ 20 por pessoa. Esse trecho do passeio é opcional, mas imperdível, pois é a parte mais bonita da jornada. No dia da visita da reportagem, patos nadavam nas águas iluminadas pelo sol que entrava pelas frestas das pedras.
Bate-volta ou pernoite
É comum entre os visitantes fazer um bate-volta até o Xingó saindo de Aracaju ou de Maceió. Serviços de van oferecem o passeio, que sai cedo das capitais e volta no fim da tarde. Mas é preciso levar em conta que são quase 4 horas de estrada em cada trecho, no primeiro caso, e quatro horas e meia, no segundo.
Menos cansativo é dormir em Canindé do São Francisco ou em Piranhas, cidade alagoana a 20 minutos dali, e aproveitar para fazer outro passeio no dia seguinte ou simplesmente curtir um dos restaurantes locais com vista para o São Francisco e balneários para se refrescar.
Com casas coloridas, lojas de artesanato de qualidade e uma praça com bares e apresentação de grupos de forró, Piranhas é uma cidade histórica tão pequena quanto charmosa.
Vale a pena vê-la do alto, de um de seus dois mirantes: o do Senhor do Bonfim, que tem uma igrejinha, e o Secular, onde fica o restaurante Flor de Cacto. Ao primeiro só se chega por uma escadaria de 265 degraus. Já o segundo também é acessível de carro.
Uma das opções de passeios de meio dia de duração é a Rota do Cangaço, que percorre caminhos explorados por Lampião, Maria Bonita e seu bando, incluindo a Grota de Angicos, onde eles foram mortos pela polícia, em 1938.
Também é possível conhecer o Max (Museu de Antropologia do Xingó), que exibe achados arqueológicos de até 9.000 anos atrás, como arte rupestre, objetos de pedra e cerâmica e ossadas.
A visita é guiada e traz informações interessantes, ainda que sejam poucas as peças originais expostas ao público. Importante saber que o local só aceita dinheiro em espécie, tanto para o ingresso (R$ 15) quanto para os produtos da lojinha.
É possível visitar o Xingó o ano todo, mas a época mais movimentada é o verão, de dezembro a fevereiro. No período chuvoso, de maio a setembro, as temperaturas são mais amenas.