Em muitos casos, as mulheres ainda são as maiores responsáveis pelo cuidado dos filhos, o que pode acarretar na dificuldade de conciliar a maternidade com outras tarefas, como o trabalho e até mesmo manter uma rotina de cuidado e bem-estar.
Pensando em atender essa demanda, algumas academias premium de São Paulo adotaram áreas voltadas exclusivamente para as crianças, chamadas de espaços kids. É o caso das academias BodyTech e Competition, que mantêm salas com diversas atividades para o público infantil, monitoradas por um responsável.
A ideia é oferecer o máximo para a família toda, diz Paula Toyansk, gerente nacional de Acqua e Kids da rede de academias. “Principalmente com a dinâmica de trabalho, de deslocamento. É além da praticidade e conveniência, um custo-benefício, porque isso já está incluso.”
O espaço da Competition segue o mesmo padrão, com atividades lúdicas e monitoradas. Ricardo Vilar, coordenador kids da rede, conta que a demanda surgiu há 20 anos para dar apoio às famílias durante sua rotina de saúde e bem-estar. “Foi um grande acerto para nós, pois nos permitiu oferecer mais um benefício aos nossos alunos”, diz.
No entanto, as academias que oferecem esse serviço ainda são minorias e estão alinhadas a um público que pode arcar com mensalidades entre R$ 500 e R$ 1.200. Mulheres que não pagar lugares que ofereçam esse apoio nem um profissional que cuidem de seus filhos acabam ficando desamparadas.
Algumas afirmam não possuir esses espaços por não permitir a permanência de menores de 14 anos nas dependências da academia, argumentando ser uma questão de segurança.
Segundo a gerente da BodyTech, o espaço é muito utilizado pelos pais em geral durante os finais de semana. Já durante os dias de semana, percebe que o público que mais se apoia no benefício são as mães que levam as crianças enquanto utilizam a academia.
A falta de suporte afeta principalmente as mulheres. “É algo que está enraizado na nossa sociedade”, afirma a psicóloga Fernanda Pimenta, e acrescenta que o cuidado diário dos filhos ainda recai sobre a mulher em relacionamentos heteronormativos. Em seu mestrado, ela desenvolveu uma revisão que conclui a importância do apoio às mulheres que se tornam mães.
O oferecimento de um espaço para as crianças brincarem pode ser lido como a oferta de uma rede de apoio para que não seja necessário abdicar do autocuidado. No entendimento comum, ir para a academia pode não parecer tão necessário quanto ter com quem deixar os filhos com alguém para ir trabalhar, mas é, diz a psicóloga.
“Ir para a academia é uma atividade de cuidado. Não apenas com a aparência, é o cuidado com o corpo e com as emoções também.”
A profissional destaca ainda que, para cuidar do outro, o primeiro passo é cuidar de si mesmo. “Insistir em fazer atividades de cuidado é existir enquanto uma pessoa inteira, além da maternidade. E isso é muito importante para não se sobrecarregar e adoecer.”
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