Ideias simplistas e mitos sobre alimentação estão cada vez mais presentes nas redes sociais. Com o boom do Ozempic e a volta da magreza extrema na moda, o aumento de materiais sobre perda de peso e substituição de alimentos por ultraprocessados “zero” se evidencia.
Para Micaela Charlone, nutricionista especializada em transtornos alimentares pelo Ipq (USP) e historiadora (USP), pensar em emagrecimento saudável pode soar chato e lento, o que facilita a adesão às “fórmulas mágicas” vendidas nas redes. Ela avalia que, diante de uma crise financeira, “ser saudável fica inviável para o trabalhador; tudo está caro e, sobrecarregado pela rotina de trabalho, ele mal consegue dormir 8 horas por dia, se exercitar e consumir mais legumes.”
O colunista da Folha e professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP, Bruno Gualano, reitera: a armadilha do “mundo fitness” é essa noção de que mudanças no estilo de vida podem ser compradas com suplementos, dietas da moda e dicas de coaches. “Nunca vemos um influencer falar sobre o Guia Alimentar para a População Brasileira, insegurança alimentar, desigualdade. Querem vender uma solução individual para um problema coletivo”.
A bióloga e divulgadora científica Mari Krüger reforça que esses produtos funcionam de forma diferente para cada um e devem ser indicados por profissionais. Ela sugere cuidado com itens que prometem melhorar muitas coisas ou se dizem sem efeitos colaterais.
Em busca do contraponto ao “terrorismo nutricional”, o nutricionista Luis Castello passou a criar conteúdos em que ironiza a vilanização de determinados alimentos. “Cada dieta deve ser individualizada. O que vemos são ideias fora da realidade”, diz.
Mas se blindar contra essas ideias pode ser difícil, diz Micaela, que também gerencia o perfil “Comida Sem Regra”. Para ela é preciso se questionar se a busca por determinado tipo de corpo condiz com o estilo de vida que se deseja ter.
Bruna Caruso Mazzolani, nutricionista especializada em transtornos alimentares pelo Ambulim e doutora pela Faculdade de Medicina da USP aponta que o acesso a cardápios e dietas foi facilitado pelas redes. “Antigamente eles estavam mais em revistas, era preciso comprar um exemplar.”
Os vídeos nas redes chegam ao seu consultório em forma de dúvidas dos pacientes. “Coma 30 maçãs ao invés de 1 fatia de panetone. Eu questiono: quem consegue comer 30 maçãs de uma vez? E do que vale se você quer o panetone? A gente também pode comer por afeto”, diz. A profissional sugere consultar profissionais para esclarecer dúvidas, mas enfatiza que nem todos têm acesso a serviços de saúde. “Vale seguir perfis profissionais. Quando algo viraliza, especialistas costumam publicar materiais embasados para explicar”, diz.
Mari, conhecida por desmistificar ideias virais nas redes, diz que a informação tem que estar online porque a desinformação já está. Para ela é importante denunciar conteúdos inverídicos, evitar o compartilhamento, além de seguir órgãos de saúde e divulgadores científicos para ajudar o algoritmo a estabelecer uma rede de conteúdos mais segura no seu feed.
Já Bruno aconselha: considere sair das redes sociais e deixar de se informar por elas. “Há um domínio ideológico dessas ferramentas pela extrema direita, que coloca a ciência em segundo plano”. Caso isso seja inviável, ele indica buscar perfis geridos por pessoas com formação acadêmica: “Número de seguidores não é sinônimo de conhecimento”.
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