O esporte é a iniciação à atividade física na infância e pode ser determinante para manter pessoas ativas na vida adulta. Resgatar a prática esportiva transforma o exercício em uma válvula de escape, um momento de prazer e bem-estar em meio à rotina, em vez de uma obrigação.
Fazer esporte ajuda quem tem dificuldade em se exercitar regularmente. O problema é que, “quanto mais envelhecemos, ficamos menos ativos e praticamos menos esportes”, afirma Daisy Motta, diretora científica da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde (Sbafs).
Pessoas adultas que têm aversão ao esporte, em geral, se encaixam em dois grupos, de acordo com Júlio Mello, doutor em ciências do movimento humano, professor da PUC de Valparaíso (Chile) e membro da Sbafs.
Existem aquelas que têm um perfil de atividades mais individuais, que não gostam de socialização e coletividade. Para elas, o ideal é buscar alternativas como a musculação ou práticas esportivas mais solitárias, como a corrida. E há aquelas que não tiveram experiência suficiente para desenvolver habilidades na infância e na adolescência. “Esse adulto, quando vai tentar um esporte, acaba se frustrando por ter muita dificuldade”, afirma Mello.
Mas sentir-se competente é um dos motivadores do exercício físico. Para esse grupo, a iniciação no esporte precisa acontecer de maneira mais lenta e menos competitiva. “Deve servir mais como um espaço de lazer e de desenvolvimento do que de performance ou de competição”, diz o professor.
Para quem deseja começar uma atividade do zero, a dica é buscar pessoas do mesmo nível. Assim, cria-se uma rede de apoio, principalmente em modalidades coletivas, para praticar esporte sem cobranças.
“O que importa é estar nesse meio, que é saudável e permite desenvolver habilidades corporais”, diz Mello. “Aí o resultado da competição fica em segundo plano. O principal é se divertir, se movimentar, passar um momento bom com outras pessoas.”
“Conforme a pessoa engaja na prática, é natural que ela vá pensando em melhorar a performance, porque o esporte tem como pilar central a competição”, acrescenta Mello.
Barreiras sociais também limitam o acesso entre adultos. Grande parte das modalidades requer estrutura adequada, como parques, piscinas, quadras e pistas. “As cidades são feitas para privilegiar as pessoas que têm mais condição de, por exemplo, ser sócio de um clube para acessar práticas esportivas”, diz.
Há ainda questões culturais. No Brasil, alguns esportes são mais praticados na infância por meninos, e outros, por meninas. O futebol, por exemplo, é estimulado entre homens, o que faz com que eles tenham mais facilidade para praticá-lo.
“Não é nada biológico ou genético, é muito mais pela condição de proporcionar o desenvolvimento das habilidades”, afirma o professor.
Então, como o esporte é eficaz em garantir aderência à atividade física? Primeiro, ele traz a socialização como um dos pilares, o que pode ser um diferencial para manter as pessoas ativas. É também uma atividade que envolve emoções, como alegrias e frustrações.
A recomendação para quem está começando é testar diferentes modalidades, experimentar até encontrar um esporte que promova uma sensação positiva —para isso, é importante insistir um pouco.
“Quanto mais regular for a prática esportiva, maior vai ser o benefício a nível fisiológico, a nível de saúde cardiovascular, de saúde muscular”, afirma Mello.
O universo do esporte é amplo, com modalidades que podem se encaixar em diferentes rotinas e gostos. Veja a seguir algumas opções clássicas, que remetem aos tempos de educação física, e conheça características de cada uma.
Futebol
É a terceira atividade mais praticada pelos brasileiros, atrás somente da caminhada e da musculação, de acordo com pesquisa Datafolha.
Proporciona ganhos cardiovasculares e também trabalha a tomada de decisão e a coordenação, afirma Mello. A habilidade necessária para correr e coordenar o movimento com a bola traz benefícios a nível cognitivo, melhorando funções cerebrais, acrescenta o professor.
Ricardo Vilar, coordenador de esportes e lutas da academia Competition, destaca ainda o benefício, socioemocional. “Em um mundo cada vez mais tecnológico, onde a interação presencial tem diminuído, o futebol ajuda a fortalecer vínculos e aliviar a ansiedade”, diz.
É um esporte dinâmico que envolve coordenação motora, agilidade, força e resistência. Também estimula a tomada de decisão rápida, o trabalho em equipe e o controle emocional, de acordo com Vilar.
Um diferencial da modalidade em nível amador é que ela possibilita com mais facilidade a prática mista, seja de gênero ou nível.
“Dependendo do local onde você chega para jogar futebol, se não tem um determinado nível, você pode até jogar uma vez, mas não se sente confortável. O vôlei consegue engajar mais”, diz o professor da PUC do Chile.
Proporciona benefícios semelhantes ao vôlei em relação às habilidades manipulativas. Também trabalha velocidade, agilidade, força, controle do corpo, equilíbrio e reação, segundo o coordenador da Competition.
A natureza do basquete traz ainda um facilitador: a possibilidade de jogar com menos pessoas. “O jogo coletivo depende de um grupo de pessoas. Mas o basquete 2×2 ou 3×3 é muito benéfico por permitir organizar a prática sem precisar de tanta gente”, afirma Mello.
“Na fase adulta, a prática muitas vezes representa a retomada de um esporte que fez parte da infância, mas que foi deixado de lado devido a compromissos acadêmicos e profissionais”, diz Vilar.
É uma prática fundamentalmente aeróbica, que traz ganhos cardiovasculares significativos. É muito indicada para quem tem problemas ósseos ou nas articulações, porque traz os mesmos ganhos que outras modalidades esportivas, mas não tem impacto, então pode ser praticada com frequência.
Trabalha coordenação motora, força, resistência física, percepção de espaço, autossuficiência e controle do estresse, de acordo com Thiago Lopes, coordenador de natação da Competition.
Além disso, a habilidade de nadar é fundamental, principalmente para quem tem contato com ambientes aquáticos. “É sobrevivência, promove segurança, por exemplo, para que crianças convivam em ambientes com piscinas, rios ou perto do mar”, complementa Mello.
Lutas
O Brasil tem uma cultura enraizada na prática das lutas, de acordo com o professor da PUC. Modalidades como a capoeira e o jiu-jítsu nasceram no país.
Nas diferentes modalidades de artes marciais há algo em comum para além do confronto físico: o senso de disciplina. “Não é uma prática de combate para que você saia brigando, é uma modalidade específica de defesa que trabalha toda uma filosofia”, afirma Mello.
“Elas criam um forte senso de pertencimento. É um verdadeiro clã, o grupo se torna uma verdadeira família, unida pelo mestre”, acrescenta Vilar.
Outra habilidade cognitiva em destaque é a atenção. “Pessoas com síndrome de Down que praticam judô trabalham muito a atenção, assim como pessoas com TDAH [transtorno de déficit de atenção e hiperatividade]”, relata Mello.
É um esporte que permite trabalhar tomada de decisão, trocas de direção e agilidade. Também exige muita capacidade cardiovascular.
Há uma restrição de acesso ainda maior, contudo, pois são mais raros os espaços públicos disponíveis para praticar tênis.
O esporte também envolve uma complexidade um pouco maior, exigindo mais coordenação motora e habilidade manual. “Mas isso também traz um desafio para quem quer sair da zona de conforto”, afirma Felipe Garcia, professor de educação física e franqueado da Fast Tennis.
Por isso é importante jogar com pessoas do mesmo nível e adaptar a prática para iniciantes. “Muita gente chega com medo de passar vergonha. Mas o tênis faz com que você acredite em si mesmo. Você consegue evoluir e trabalhar suas habilidades e seu condicionamento de forma prazerosa”, diz Garcia.